A
reportagem do Correio percorreu 11 cidades para observar a situação das
áreas atingidas pela seca. Em Areia de Baraúnas, no Sertão, também não
existe sistema adutor e a água para população de quase 2 mil habitantes
está sendo disponibilizada por meio de dois caminhões pipas, que não é o
suficiente para atender a demanda.
A
distribuição de água através de caminhões pipas acontece duas vezes na
semana e a água é racionada. Os moradores aproveitam para garantir água
para o resto da semana, enfrentando correria, brigas e constrangimentos,
na luta por dois baldes de água. A agricultora José Ferreira Silva, 42,
só conseguiu pegar um balde de água no dia em que o pipa fez a
distribuição e por conta disso, ela ficará uma semana com a quantidade
de água para beber e cozinhar. "Eu estava ocupada quando o pipa chegou
ai quando corri com meus baldes, já não tinha mais quase nada e só deu
pra encher um. Não sei como vamos passar uma semana com apenas uma lata
d'água", lamentou.
A
cidade será comtemplada com o sistema adutor Patos-Assunção, que
disponibilizará água para seis cidades. As obras já estão em Areia de
Baraúnas e a expectativa é de que o abastecimento tenha início no começo
do próximo semestre. "Estamos terminando de concluir a caixa de bombas e
depois disso, vai depender da Energisa para resolver a modificação da
rede elétrica, que terá que passar pela estrada. O sistema adutor já
está abastecendo as cidades de Quixaba, Cacimba de Areia e Passagem.
Depois será a vez de Areia de Baraúnas, Salgadinho e Assunção",
explicou.
A
situação também é ainda mais crítica em Salgadinho, Assunção, São José
do Sabugi, São Mamede, Teixeira, São José de Lagoa Tapada, Cacimba de
Areia, Piancó, Santa Cruz, Santa Luzia e São Francisco.
Nestas
localidades, os reservatórios que abastecem a zona rural e urbana,
estão com volume de armazenamento abaixo de 20%, segundo dados da
Agência Estadual de Gestão das Águas (Aesa). O menor volume é do açude
São José IV, localizado na cidade de São José do Sabugi, no Seridó
paraibano, que contem apenas 0,2% da capacidade total. Na cidade,
adultos, crianças e idosos, que estão sofrendo com a seca, "duelam"
diariamente para conseguir uma ‘lata d'água', distribuída por caminhões
pipas.
Na
cidade vizinha, São Mamede, é a população rural quem mais sofre. Os
animais não estão resistindo à falta de pasto e os produtores rurais que
não possuem condições de financeiras de comprar ração, estão sendo
obrigado a vender "cabeças" de gado, para que eles não morram. Mesmo
assim, já é possível encontrar carcaças de bois na região.
O
agricultor Antônio Silva Santos, 59, que mora na comunidade rural de
Angola, tenta manter seu rebanho e para isso, ele está racionando
dinheiro que seria para alimentação da própria família, para poder
comprar torta e farelo para os animais. Ele reclama que sem pastos no
campo, o preço da ração está subindo e terá que vender animais para que
eles não morram de fome.
Faepa: situação é grave
O
agricultor José Gilmar da Silva, 39, que mora no Sitio Nicolau, também
na zona rural de São Mamede, enfrenta a dor de ver seu gado morrer. Ele
disse que nas últimas semanas, bois e vacas estão perdendo as forças e
não conseguem mais caminhar pelo pasto vazio. "Essa é a minha melhor
vaca que eu tenho no rebanho e agora ela está assim, sem conseguir
andar, por conta das condições difíceis da seca, da falta de alimentação
no pasto. Eu não tenho condições de dar mais ração e estou perdendo meu
gado", desabafou José Gilmar.
O
presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faepa),
Mario Borba afirma que a Paraíba está perdendo rebanho para outros
Estados. Ele explicou que os produtores rurais que não tem mais
condições de enfrentar os efeitos da seca, estão mandando o gado para
fora do Estado, sobretudo para Ceará e Pernambuco. "Estão tirando o
rebanho e até dando de ‘meia' a outros criadores de estados vizinhos,
para poder garantir a sobrevivência deles. Há registros de que animais
que custavam R$700 estão sendo vendidos por R$300 e se a situação
climática não mudar, a tendência é ficar mais grave ainda. Uma situação
dessas, só foi verificada nos anos 90", frisou Borba.
DANIEL MOTTA - Correio